Metade das mortes por COVID-19 na Europa ocorreram em ILPIs – Dado da OMS acende alerta para o cenário brasileiro


A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que metade das mortes por COVID-19 na Europa ocorreram em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). A informação foi divulgada em vídeo pelo diretor da regional europeia da OMS, Hans Kluge.

Desde o início da pandemia, os idosos foram identificados como grupo de risco e, para além da vulnerabilidade física, Kluge aponta os desafios cognitivos para entender e seguir conselhos de saúde e higiene, devido a deficiência mental ou demência, por exemplo, que podem colocar as pessoas nessa faixa etária em maior risco.

Na Bélgica, o país mais afetado do mundo no que diz respeito à taxa de mortalidade por coronavírus, os dados oficiais indicam que, das 7.703 mortes registradas até o dia 2 de maio, 53% aconteceram em ILPIs. Autoridades do país destacam que foram cometidos erros no início da pandemia, o que pode ter levado ao elevado número de casos: a falta de preparo deixou os funcionários sem equipamentos de proteção, o que permitiu que o vírus se espalhasse rapidamente, com efeitos devastadores.

Fora da Europa, o cenário se repete. Nos Estados Unidos, um terço das mortes por coronavírus ocorreram em ILPIs. De acordo com dados do New York Times, cerca de 27.700 residentes e trabalhadores de lares de idosos e outras instituições de longa permanência morreram em decorrência da COVID-19, e o vírus já pode ter infectado cerca de 150 mil pessoas, em 7.700 instituições. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país destacam que instituições como ILPIs podem facilitar a propagação do vírus, uma vez que, nelas, muitas pessoas vivem em um ambiente confinado e os trabalhadores se deslocam de sala em sala.

“Um terço de todos as mortos por coronavírus nos Estados Unidos eram residentes ou funcionários de casas de repouso”, apontam dados levantados pelo jornal The New York Times

Em Quebec, no Canadá, a maioria das mortes por COVID-19 também foram registradas em Instituições de Longa Permanência para Idosos: Dos 1.340 mortos registrados até agora, 1.057 eram idosos em atendimento. Além disso, pelo menos 4 mil profissionais de saúde de ILPIs testaram positivo para COVID-19 e 80 das residências para idosos da província são consideras “em estado crítico”.

E no Brasil?

Os dados apresentados pela OMS acendem um alerta vermelho sobre a situação do Brasil. A maioria de nossas ILPIs sofre com falta de recursos e, na maior parte dos casos, não conta com infraestrutura adequada e profissionais qualificados. Especialistas em gerontologia temem que aconteça no Brasil um “gerontocídio” semelhante ao caso europeu e pintam até um cenário “pior que um holocausto”.

Dados da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI) de abril deste ano apontam 2.374 ILPIs filantrópicas cadastradas, abrigando mais de 70 mil idosos. Dessas, quase 1.500 não recebem benefício financeiro do Poder Público, o que com certeza compromete a capacidade de prestação dos serviços com a qualidade necessária. Mas o problema não é exclusivo nas organizações filantrópicas. Segundo Dra. Karla Giacomin, geriatra e pesquisadora da Fiocruz, em apresentação na Comissão Externa de Ações Contra o Coronavírus, na Câmara dos Deputados, um terço das ILPIs privadas de Belo Horizonte podem ser consideradas precárias.

Em São Paulo, o vírus tem se espalhado em asilos no interior do estado, que já registrou casos em instituições para idosos de ao menos cinco cidades. Mais de 20 idosos já morreram de COVID-19 e 33 funcionários de asilos foram diagnosticados com a doença. Uma instituição em Piracicaba identificou que 49 dos seus 74 moradores foram infectados pelo novo coronavírus. Aqueles que testaram negativo precisaram ser retirados da instituição e colocados em isolamento reverso em um hotel.

Para evitar que a tragédia acontecida na Europa se repita no Brasil é preciso que sejam tomadas ações urgentes e articuladas entre Governos e Iniciativa Privada para apoiar as ILPIs públicas, filantrópicas e privadas.

Confira o vídeo da OMS na íntegra: